Bebês reborn servem de apoio terapêutico para pessoas com Alzheimer
Especialista diz que é preciso evitar a infantilização e não mentir para o paciente sobre o brinquedo

Cada vez mais comuns no Brasil, os bebês reborn — bonecas hiper-realistas que imitam recém-nascidos — têm ganhado espaço não apenas em coleções, mas também em tratamentos de saúde. Recentemente, famílias e cuidadores têm descoberto que os bebês reborn servem de apoio terapêutico para pessoas com Alzheimer, ajudando a reduzir a ansiedade e estimular a interação de pacientes que vivem com a doença.
A a Lidiane Saburi de Oliveira, de 45 anos, viu de perto os efeitos positivos desse tipo de abordagem. Ela presenteou a tia-avó Lais Saburri Alves, de 89, com uma reborn por indicação médica. “Ela recebeu diagnóstico de Alzheimer há um ano, mas já apresentava sinais antes. A boneca acabou sendo a razão da alegria dela. A melhor coisa que fizemos”, relata.
- Bebês Reborn em Goiânia: veja onde comprar bonecas hiper-realistas
Segundo a terapeuta ocupacional Carla da Silva Santana, docente da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP e integrante da Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz-SP), o uso das bonecas está ligado a uma necessidade emocional fundamental. “O apego é considerado uma necessidade psicológica essencial”, afirma.
Isso ocorre devido ao impacto físico e emocional causado pela demência. “Uma boneca pode ser uma oportunidade para terapia de validação e para resgatar reminiscências“, explica a especialista. No entanto, ela alerta para o custo elevado das reborn, que podem ultraar os R$ 5 mil, tornando-se uma barreira para muitas famílias.
A terapeuta também destaca a importância de respeitar a dignidade dos pacientes durante a terapia. “Usando bonecas ou não, é preciso sempre tratar todos os adultos como adultos. Evite infantilizar ou mentir sobre o brinquedo, para que não haja situações de humilhação ou confusão entre o que é real e o que não é”, orienta.
- Casal se separa e briga na Justiça por guarda de bebê reborn: “Parte da família”
O momento pode ser aproveitado para conversar sobre memórias afetivas, como antigas bonecas, brincadeiras e nomes que marcaram a infância do paciente. Nem todos, no entanto, reagem da mesma forma. “O interesse é mais comum nos estágios intermediários e graves da doença, e nem todos os pacientes se conectam com as bonecas”, explica Santana.
A demanda por bebês reborn terapêuticos também cresce no setor comercial. Na Baby Maternidade Reborn, rede com seis lojas, sendo duas em shoppings de Ribeirão Preto (SP), uma em cada cinco bonecas vendidas é voltada ao tratamento de doenças degenerativas.
“Hoje, cerca de 20% das nossas vendas são para presentear pessoas com Alzheimer e outras demências. Os clientes querem os modelos mais realistas possíveis, para que o paciente tenha a sensação de estar com um bebê de verdade”, diz Isabelita Brilhante, de 35 anos, proprietária da rede.
- Vídeo: bebê reborn completa 3 anos e ganha festa de aniversário: “parabéns princesa”
Ela conta que aprendeu a técnica por conta própria, após não conseguir encontrar uma reborn ível para as filhas. A empresária começou vendendo online e, há um ano, abriu a primeira loja física. Desde então, o negócio decolou. “Já abrimos mais cinco unidades e nosso faturamento cresceu 70%”, afirma.
No último mês, a busca pelas bonecas disparou ainda mais, impulsionada pela repercussão de reportagens sobre colecionadoras de reborn. “A procura tem sido altíssima”, afirma Isabelita.
*Com informações da Folha de São Paulo