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INTOLERÂNCIA

SC: Escola acolhe imigrantes com hino da Venezuela e diretora é hostilizada

O projeto executa, uma vez por mês, o hino da Venezuela para acolher 32 estudantes

O projeto executa, uma vez por mês, o hino da Venezuela para acolher 32 estudantes. O caso ocorreu em Santa Catarina. (Foto: divulgação)
O projeto executa, uma vez por mês, o hino da Venezuela para acolher 32 estudantes. O caso ocorreu em Santa Catarina. (Foto: divulgação)

A diretora de uma escola municipal de Capivari de Baixo, no sul de Santa Catarina, relata estar sofrendo críticas hostis nas redes sociais, após iniciar um projeto em que executa o Hino da Venezuela uma vez por mês na instituição de ensino. A ação tem o objetivo de acolher os 32 alunos venezuelanos que estudam na unidade.

Ela está à frente da escola municipal Santo André, que possui cerca de 230 estudantes, do pré ao 9º ano do ensino fundamental, e está localizada em uma região onde há maior concentração de refugiados no município, hoje com um total de 25 mil habitantes. No bairro, homônimo ao da escola, segundo a prefeitura, há uma casa cedida a essas famílias estrangeiras por meio de um projeto da Cáritas, organização humanitária da Igreja Católica.

Desde então, a escola realiza inúmeras ações de acolhimento e integração —e em uma reunião pedagógica ficou definido que o hino venezuelano seria executado uma vez por mês. A primeira ocorreu na última segunda-feira (30).

Ao ler os comentários nas redes sociais da diretora e também da escola, a diretora afirmou estar decepcionada com as críticas —que não considera ameaça— vindo, em grande parte, de pessoas que não são da região. “Não recebi ameaças contra mim e à escola, mas foram críticas pesadas. Falaram que iam denunciar ao Ministério Público, pedir minha exoneração. Comentários do tipo ‘quem foi o palhaço que foi inventar isso">

Sobre registrar um Boletim de Ocorrência, ela diz que, por enquanto, não irá tomar nenhuma atitude. “Crítica é crítica, todo mundo tem direito a fazer”, justifica. Mesmo assim, a diretora esteve em uma reunião com o setor jurídico da prefeitura, que acompanha o caso desde a manhã de ontem. De acordo com ela, a orientação é a mesma.

As críticas não se limitaram às redes sociais. Um homem, que teria dito ser vizinho da instituição, ligou para a escola. Conforme uma funcionária que atendeu a ligação, ele questionou o motivo de tocar o hino do país vizinho e não o do Brasil.

“Aí eu falei: ‘Quem disse para o senhor que não tocamos o hino nacional">

Joelma rechaça a discussão ideológica alegada por críticos ao projeto. “Não tem nada a ver com isso. Eles vêm [ao Brasil] sem nada. Não é exaltar o outro país. É para os alunos venezuelanos se sentirem acolhidos pela escola”, disse.

Indagada sobre a continuação do projeto, Claudia afirma que nada será alterado.

Ele está ‘bem amarrado’, dentro da lei. É um projeto cultural, educativo e humanitário. Não estou infringindo nenhuma lei e não há nenhuma lei que impeça de nós cantarmos o hino deles. Tem, claro, algumas regras a serem seguidas: temos que cantar o nosso em seguida, tem que ter a nossa bandeira. Não pode trocar uma [bandeira] pela outra e nós não fizemos isso. Estou com a consciência tranquila.
Cláudia da Rosa Nascimento Lopes, diretora

Os pais dos filhos brasileiros aprovam a iniciativa, segundo a diretora. “São totalmente a favor da escola. Inclusive, além das críticas, eu recebi muitas mensagens de apoio. Da nossa comunidade, só elogios”, afirmou a responsável.

“Falta muita empatia, né? Amor ao próximo, independente de religião, política, nacionalidade”, desabafou Joelma.

Em nota enviada ao UOL, a prefeitura de Capivari de Baixo, responsável pela escola, informou que não se manifestará a respeito das críticas e que valoriza o Hino Nacional Brasileiro, “sempre em primeiro lugar”. E que “não é uma questão de ideologia, política ou qualquer outro foco”.

“É simplesmente uma situação de respeito. Se houvesse 34 estadunidenses ou japoneses, a iniciativa seria a mesma.”

Confira a nota da Prefeitura de Capivari de Baixo (SC), na íntegra:

Valorizamos nosso lindo Hino Nacional Brasileiro, sempre em primeiro lugar. Esta atividade foi adotada em forma de respeito aos 34 alunos e cerca de 100 venezuelanos que moram no bairro Santo André. Nossa cidade é pequena, e este contingente de estrangeiros é significativo pra comunidade local. Nosso jornalista, Rafael Andrade, detalha – em sua matéria/release – bem o projeto, o amor ao Brasil e a ação envolvendo o hino do país latino como atividade disciplinar e cultural. Só isso. Não é uma questão de ideologia, política ou qualquer outro foco, é simplesmente uma situação de respeito. Se houvesse 34 estadunidenses ou japoneses, a iniciativa seria a mesma.